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quarta-feira, julho 05, 2006

Pra mim, a imagem da seleção...

Na chácara do meu pai tem gansos e galinhas. As galinhas só se fodem. Elas
ciscam o dia todo, chocam, cuidam dos filhotes e têm que se proteger dos
animais selvagens que aparecem por lá à noite querendo comer alguém. Os
gansos não. Eles não têm predadores, não têm filhos, ficam só andando pra lá
e pra cá, exibindo sua beleza exuberante e sendo tratados com ração
especial. Os gansos são onze. As galinhas são muitas, multiplicam-se e
morrem todo dia. Daqui pra frente, os gansos serão chamados de SELEÇÃO
BRASILEIRA. As galinhas somos nós, os trouxas.

Confessa: você conseguiu chorar? Ou a raiva não deixou? Nenhum jogador do
Brasil chorou depois do jogo, ninguém foi flagrado deitado no gramado com a
mão na cabeça. Até o Beckham, tão criticado, chorou no outro jogo. Os
brasileiros não, só saíram pro vestiário, pensando na desculpa que iam dar.

Eu não chorei. Passei nervoso sim, mas foi só raiva, nada daquele nervoso
que adormeceu meus braços na final do Mundial em Tóquio. Assim que o jogo
acabou, tirei minha camisa da seleção da promoção do Guaraná (porque Nike de
cu é rola) e botei uma camisa do São Paulo Futebol Clube, só pra me lembrar
que eu ainda sou campeão do mundo. Eu sou sãopaulino, não estou acostumado a
perder campeonatos mundiais.

Pra mim, a imagem da seleção brasileira na Copa é a de Roberto Carlos de
cócoras, fazendo a dança da bundinha na entrada da área, enquanto o Henry
sobrava livre pra marcar o gol da eliminação. A outrora denominada "posição
que Napoleão perdeu a guerra" doravante será conhecida como "posição que o
Brasil perdeu a Copa".

Ou talvez a imagem da Copa seja o ZZ Top aplicando um chapéu no Gordo e o
Gordo aceitando na boa, provavelmente pensando no que ia comer depois do
jogo. Nada me tira da cabeça que aquelas garrafinhas de água que o Parreira
dava pra ele tinham leite condensado.

Mas que maldade, não? Temos que aceitar a derrota, dar a volta por cima como
todo brasileiro batalhador que "não desiste nunca" e comemorar, afinal o
Brasil bateu vários recordes nesta Copa da Alemanha:

A seleção bateu o recorde de vitórias consecutivas em Copas.

O Cafu bateu o recorde de mais jogos disputados e mais um monte de recordes
que não me lembro agora. A cada peido solto em campo, Cafu batia um recorde.
Que lindo.

Ronaldo Bola Nove bateu o recorde de artilharia em Copas.

Lúcio bateu o recorde de tempo sem fazer falta.

Roberto Carlos bateu o recorde de entregadas de ouro pra França. Já é a
segunda!

Ronaldo Bola Nove bateu o recorde de jogador mais gordo a disputar um
Mundial.

Cafu bateu o recorde de pior leitura do manifesto anti-racismo. O Henry
tinha razão: somos um bando de analfabetos. E nem jogar bola sabemos mais. O
tempo que os franceses gastam estudando, nós passamos cometendo crimes.

Beckham e Zidane lendo o manifesto pareciam lordes atores shakespeareanos,
os Laurence Olivier dos gramados. Mas como culpar Cafu pela péssima leitura?
Se nosso presidente mal sabe ler, por que o capitão da seleção deveria?

Ronaldinho Gaúcho bateu o recorde de propagandas enganosas. Porque ele nem
suou e tampouco jogou bonito. E tem mais: doravante não temo mais o
Barcelona. Se o melhor jogador do time deles é isso aí, não há motivos pra
medo. Se o São Paulo for pra Tóquio, o tetra tá garantido. Ronaldinho
Gaúcho, pra mim, é o Fabiano Augusto da Nike. O Garoto Bombril da Nike. Só
isso.

E a torcida do São Paulo sempre teve razão: o Kaká é um pipoqueiro até que
se prove o contrário. Se o time está bem, ele joga bem. Se o tive vai mal,
ele não tem as manhas de chamar a responsabilidade.

Claro, ele não é o Zidane. Zidane é um capitão que sabe ler e jogar bola.
Ele já não aparece mais em tantos comerciais de TV, mas quando o bicho pega,
ele está lá pra resolver e JOGAR BONITO. Não sei quantos recordes o Zidane
já bateu, mas sei que periga ele ser lembrado como o maior jogador dessa
era. O cara que fez o Brasil virar freguês da França. E quem vai falar o
contrário? O Ronaldo Bola Nove ganhou uma Copa e perdeu duas de forma
patética. 2 a 1, Ronaldo. Espero que os livros de história do futebol
valorizem mais seus recordes do que isso.

E Chupa Nike, que colocou no ar sábado um comercial exaltando o guerreiro
Ronaldo. Que timing, hein? Mais um mídia desempregado mandando currículo por
aí.

E o Parreira? E a posse de bola e os toquinhos de lado que ele tanto ama de
paixão? O futebol que o Parreira aprecia é aquele zoado no episódio genial
dos Simpsons. Se não fosse a incompetência do Baggio em 94, o Parreira hoje
seria um técnico de segundo escalão, dirigindo o Botafogo do Rio. Vamos ver
se agora ele vai pro nível que ele merece. Demorou, Parreira.

Dida, Lúcio, Juan, Zé Roberto, Cicinho, Robinho: vocês estão perdoados. Na
próxima Copa, espero que vocês possam voltar e jogar com um time de verdade,
tipo aqueles que o Felipão dirige. Ok, Kaká e Ronaldinho Gaúcho também terão
tempo de se recuperar. Mas vai ser difícil.

E ainda tem gente falando que foi comprado? Quanto vale o fim de carreira
melancólico de Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo Gordo e a queda do pedestal do
Ronaldinho Gaúcho? Se foi comprado, foi por uma fortuna.

Minha solução para essa vergonha é utópica, ingênua e infantil, mas
permita-me colocar aqui: só deveriam ser convocados jogadores que jogam no
Brasil. Fodam-se esses europeus que ficam abraçandinho os adversários no
intervalo. Quer sair do país e ficar milionário? Vai, mas nunca mais vista a
amarelinha. Vamos ver quem tem amor à camisa e à pátria de verdade. Quero
ver sangue nozóio, cuspe no Henry e voadora no Zidane depois do chapéu.

Porque eu não sei quanto ao seu time, mas o meu tricolor daria um cacete
nesses gansos do Parreira. E quem não daria?

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Autor desconhecido.