Para Refletir...
A VOZ DO BRASIL !
(Quase) Quatro anos depois!
Professor Silvio Luzardo
Publicado no Diário Catarinense (11.09.2002), no site www.comnet.com.br > colunistas > silvio luzardo (07.09.2002) e, na época, difundido via Internet por inúmeros blogs
texto do original de 2002 com comentários de 2006
(dedicado aos meus jovens alunos do Curso de Oratória de Florianópolis: Adriano, Rodrigo, Leocir, André, Roberta, Erica, Cris, Victor, Fernanda, Karina, Márcia, que demostraram que podemos acreditar no Brasil que está amadurecendo)
Reconheço a voz do Brasil nos que não podem gritar, constrangidos no pavor que emana dos becos das favelas (nas grandes cidades os cidadãos ordeiros são reféns do crime organizado e são subservientes para poder sobreviver; e, em março de 2006, os traficantes já adotam até vale-droga)
Encontro à voz do Brasil nas longas filas criadas na expectativa de um emprego e que se emudecem nas farpas de uma esperança combalida (São dois milhões de desempregados em março de 2006, dos dez milhões de postos de trabalho prometidos pelo governo Lula, não se chegou a dois em quatro anos)!
Procuro a voz do Brasil no teor das promessas não cumpridas, abandonadas em prol de negócios corroídos de interesses menores (A República das Alagoas foi substituída pela República do Ribeirão e outras mazelas; o voto "secreto" na Câmara Federal para acobertar o corporativismo; a propina filmada e comprovada do braço-direito de Zé Dirceu. Tudo continua como antes na terra de Abrantes)!
Tento identificar a voz do Brasil na essência das lideranças que se sucedem sem elegerem o nosso sonho e que se flagelam reciprocamente, reconhecendo suas mazelas e suas fraquezas mútuas (A base aliada se contraindo e se desmentindo na mentira e ataque recíproco entre Roberto Jefferson e Zé Dirceu, um atacando o outro; os presidentes da Câmara Severino e Paulo Cunha nadando em privilégios sorrateiros; onde estão nossas lideranças políticas? Procurando transformar em pizza o escândalo do mensalão)!
Busco a voz do Brasil no povo humilde que se arvora diante de sua ignorância e se debate sem ter referências que o impeçam de errar (uma mentira dita mil vezes vale mais que uma verdade cristalina para quem não sabe discernir o que é certo e o que é errado; é preferível dar de graça para encher a boca e comprar o voto do que um emprego digno)!
Persigo a voz do Brasil nos debates legislativos e resisto a idéia de que ela não está presente naqueles gestos dramáticos do parlamentar (dramaticidade não enche barriga e não gera postos de trabalho, nem renda. Ah, claro, há a renda e aposentadoria para os parlamentares cassados)!
Penetro nas audiências dos tribunais e vejo que a voz do Brasil é lerda e que os processos superam as razões e a justiça é sufocada pelo tempo (nunca, em tempo algum, ministros do Judiciário supremo falaram tanto sobre assuntos que não são de sua esfera que é tão somente julgar procedências constitucionais; juizes se preocupam com o seu futuro político no Sul e no Maranhão)!
Na minha surdez cívica ainda ouço a voz do Brasil nascer esbelta no choro de uma criança, mas sei que aquele amor maternal será pouco para ergue-la mais adiante (A bolsa família é apenas um casuísmo clientelista e populista que gera mais crianças nas favelas e no interior ; e produz pais ausentes, descomprometidos e preguiçosos, sem responsabilidade pelo pátrio poder, que o governo abocanhou para gerar votos e delegou "a missão" aos professores mal pagos e estressados com essa carga emocional complementar)!
Resisto a perder o rumo da voz do Brasil que me chama, quando percebo que os que deveriam dar o exemplo decaem na fragilidade de seus princípios e na rudeza de sua intolerância (o princípio do "primeiro eu" depois os outros, vamos também "mamar na vaquinha da República brasileira", vamos fazer acordos obscuros e anti-éticos para nos manter no poder é a lei que impera em Brasília)!
Procuro a voz do Brasil, com toda a ênfase, no peito dos que perseveram com suas lições de solidariedade e que amanhecem carregados de fé no árduo trabalho que têm pela frente (os incansáveis trabalhadores e empreendedores que sustentam com seus tributos a farra da corrupção e do desvio de dinheiro público e o que ganham em troca é uma Operação Tapa Buraco)!
Encontro à voz do Brasil na pauta dos mestres que carregam idéias por caminhos de pedras, na persistência dos professores que edificam em lamaçais, na dura faina dos voluntários que fazem das sombras os seus escudo de perseverança (esses abnegados e heróis anônimos que assumiram papéis que não lhe competem e o fazem com vigor e altruísmo: ao mesmo tempo assumem os papéis de pais, mães, tios, diligentes sociais, negociadores de conflitos, miniminizam a violência que vem de casa e ganham um salário incompatível com o seu esforço sobre-humano)!
Reconheço a voz do Brasil na garganta dos lavradores que não deixam fenecer as sementes, na canção dos que embalam crianças abandonadas, na vigília dos que se expõem para que os outros descansem sem medo (e tem que enfrentar turbas e violência de grupos organizados de extrema esquerda e agentes internacionais infiltrados que avançam contra o seu patrimônio, e vêem destruídas suas lavouras e anos de pesquisa como na Aracruz a título de "pressão" contra o "governo" e a produção agrícola que é a salvação do país, mesmo a míseros reais o seu valor. E sentem-se fortalecidos na impunidade pois percebem que a autoridade constituída não toma nenhuma posição vigorosa contra esses atos terroristas)!
Identifico a voz do Brasil no universitário que ultrapassa desafios e persegue seus sonhos sem retroceder, pois quem retrocede fica mudo e perdido: não há trégua para quem fraqueja (na universidade pública ele pena pela falta de verba nos laboratórios e nas pesquisas; na privada tem que suar o dobro para poder pagar as matrículas do seu conhecimento)!
Enfim, a voz do Brasil deveria estar na voz de todos nós, empolgante para nos fortalecer como povo, firme para construímos nossa Nação (mas preferimos nos calar, ficarmos quietos no nosso canto, impávidos e manietados pela mídia que não nos dá a chance de refletir e não nos empurra para a discussão nacional de nossos dilemas)!
Tenhamos paciência com a voz que ainda cantarola dentro do nosso coração abatido: chegará um dia em que a voz do Brasil será uma só, entoada por todos, numa mesma direção (mas a esperança também de tanto esperar, um dia cansa, se desarvora e fica inerte para que os aproveitadores possam se aproveitar dos incautos)!
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