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quinta-feira, março 09, 2006

OS PREÇONHENTOS

OS PREÇONHENTOS

Alguns conhecidos voltaram da China impressionados. Um determinado produto que o
Brasil fabrica um milhão de unidades, uma só fábrica chinesa produz quarenta
milhões... A qualidade já é equivalente. E a velocidade de reação é
impressionante. Os chineses colocam qualquer produto no mercado em questão de
semanas... Com preços que são uma fração dos praticados aqui.
Uma das fábricas está de mudança para o interior, pois os salários da região
onde está instalada estão altos demais: 100 dólares. Um operário brasileiro
equivalente ganha 300 dólares no mínimo. Que acrescidos de impostos e
benefícios, representam quase 600 dólares. Comparados com os 100 dólares dos
chineses, que recebem praticamente zero benefícios...
Hora extra? Na China? Esqueça. O pessoal por lá é tão agradecido por ter um
emprego, que trabalha horas extras sabendo que nada vai receber...
Essa é a armadilha chinesa. Que não é uma estratégia comercial, mas de poder. Os
chineses estão tirando proveito da atitude dos marqueteiros ocidentais, que
preferem terceirizar a produção e ficar com o que “agrega valor”: a marca.
Dificilmente você adquire nas grandes redes dos Estados Unidos um produto feito
nos Estados Unidos. É tudo “made in China”, com rótulo estadunidense. Empresas
ganham rios de dinheiro comprando dos chineses por centavos e vendendo por
centenas... Mesmo ao custo do fechamento de suas fábricas.
É o que chamo de “estratégia preçonhenta”.
Enquanto os ocidentais terceirizam as táticas e ganham no curto prazo, a China
assimila as táticas para dominar no longo prazo. As grandes potências
mercadológicas que fiquem com as marcas, o design... Os chineses ficarão com a
produção, desmantelando aos poucos os parques industriais ocidentais. Em breve,
por exemplo, não haverá mais fábricas de tênis pelo mundo. Só na China. Que
então aumentará seus preços, produzindo um “choque da manufatura”, como foi o do
petróleo. E o mundo perceberá que reerguer suas fábricas terá custo proibitivo.
Perceberá que tornou-se refém do dragão que ele mesmo alimentou. Dragão que
aumentará ainda mais os preços, pois quem manda é ele, que tem fábricas,
inventários e empregos... Uma inversão de jogo que terá o impacto de uma bomba
atômica. Chinesa.
Nesse dia, os executivos “preçonhentos” tristemente olharão para os esqueletos
de suas antigas fábricas, para os técnicos aposentados jogando bocha na esquina,
para as sucatas de seus parques fabris desmontados. E lembrarão com saudades do
tempo em que ganharam dinheiro comprando baratinho dos chineses e vendendo caro
a seus conterrâneos...
E então, entristecidos, abrirão suas marmitas e almoçarão suas marcas.


Este artigo é de autoria de Luciano Pires