Feriado, um bom dia para lermos sobre nossa cidade. Um Ato
heterossexual. E eis que um belo dia você tem entre 15 e 25 anos e
mora em Taió. Caso você esteja enquadrado nesse intervalo de idade
pode estar suspeitando daquilo que vou falar, sendo assim, você deve
ter relacionado 15 e 25 anos com o substantivo Taió. Caso você não
tenha entre 15 e 25 anos ou então nem suspeite do que irei falar, vai
lendo que logo você pega a idéia. Imagine-se uma pessoa sadia,
respirando nosso ar sem cheiro e sabendo que um fim de semana inteiro
espera por você e por seus amigos, cartazes recheados com promessas de
álcool, e bagunça perambulam pelas paredes mal pintadas de nosso
centro, muito deles indicam caminhos coloridos, outros por sua vez,
mostram só os pretos e brancos. Boatos da semana passada chegam aos
seus ouvidos, histórias sem nexo, mentiras aumentadas, lembranças e
flashes de memória lhe fazem prometer que você fará desse, um fim de
semana melhor do que o da semana anterior. Pessoa por quem você começa
a sentir alguma coisa de diferente, que você ainda não sabe explicar,
mas tenta, passa e diz um oi tímido. Os malditos carros de som com
propaganda transitam berrando, na tentativa de comunicar algo com um
texto muito, mas muito ruim. Todos os acontecimentos constroem aqui um
micro-ambiente extremamente original, o centro de nossa cidade, onde
existem os conhecidos caminhos rotineiros. Na realidade são opções,
você escolhe se quer dar 89 voltas com o carro que seu pai comprou ou
com o carro que você deu duro para comprar, ou se quer ficar parado
num dos botecos, mais mal pintados ainda do que as paredes do nosso
centro, e encher a cara com os seus amigos, é lógico, com o dinheiro
que você deu duro para conseguir ou com o dinheiro que seu pai lhe deu
para que você não ficasse tão duro assim --- Você já deve estar
começando a entender onde quero chegar, mas não se preocupe, o final
não é tão trágico assim. --- Eis que você está lá, num sábado, entre
19:00h e 21:00h depois de ter vindo da missa com seus pais ou nem ter
ido, ou ter recebido convite e ter ficado xingando em casa, jogando
truco, videogame ou ter ficado só por estar cansado mesmo, ou por
simples escolha --- Isso sem contar o sábado de tarde, esse eu comento
da próxima vez --- parado no Bar do Alemão, com seus amigos e com suas
amigas, vendo seus outros amigos e outras amigas passarem de carro com
pessoas que já foram seus, ou suas amigas... na certa você deve estar
com uma bebida na mão, deve ter um carro perto de você com o som
ligado --- e geralmente tocando música da modinha de São Paulo ---, só
no volume 98 pra não atrapalhar ninguém que por acaso tenha ido dormir
às 18:00h e você não sabe ao certo por qual motivo, mas sua
consciência, o id e o ego vêm até você e lançam a seguinte pergunta:
Porra! O que eu poderia inventar hoje? --- Essa pergunta, acreditem, é
muito mais complexa do que parece. Permito-me uma interrupção mais
longa aqui. Já dizia Sartre "O Homem está condenado a ser livre",
afirma, ou seja, não se pode escapar do "querer ser livre", visto que
a liberdade é uma necessidade de todos. Afinal, para conseguir ser
livre, precisa-se ser obrigado pelo dever de ser livre, então cheio de
juventude e forte o suficiente para mover o mundo por uma causa... ---
Você olha para o lado e a pergunta se repete uma dezena de vezes, em
cabeças diferentes é claro, mas sempre com um palavrão antes do trecho
mais citado: Caralho, o que eu poderia fazer hoje? Inferno, o que a
gente vai fazer hoje?.... Caso tu sejas um rapaz, deves estar querendo
fazer sexo, nada mais normal do que isso. Caso tu sejas menina, deves
estar querendo fazer amor, nada mais normal do que isso. --- Alias,
papai e mamãe...se vocês soubessem como a gente transa em Taió num
sábado à noite...(nada mais normal que isso) na maior parte das vezes
a gente sempre se arrepende. Mas todo mundo transa. As meninas, quando
chegam aos 14 anos já estão fazendo sexo oral em algum rapaz que tem
um carro legal ou vise versa. Mas isso não importa, o que importa é
que a gente transa mesmo, mas transa muito. E todo mundo transa com
todo mundo aqui em Taió, nada contra sexo, é saudável é bom...mas a
gente na maioria das vezes esquece o preservativo, por que todo mundo
se conhece mesmo!. --- No entanto fazer sexo ou fazer amor ainda são
coisas muito longe para as 19:00 horas. Agora nosso poder de fogo
concentra-se em rir, bater um papo, conversar sobre coisas legais e da
semana, sobre nossa aula e falar dos outros, que é o que a gente sabe
fazer muito bem aqui em Taió. Parece estar tudo certo, não fosse a
maldita pergunta coçando no lado esquerdo da razão. Mesmo que estar
num bar, já possa ser classificado como "estar se fazendo alguma
coisa", nossa força, nossa capacidade e nossos corpos jovens sempre
estão buscando um diferencial ainda mais diferencial, é claro, pois o
bar é sempre o começo de alguma coisa. Então a gente resolve sair por
ai. Os rapazes ligam os carros e saem a mais de 140Km/h, as meninas
bebem cerveja no banco de trás, todo mundo berra dentro do carro para
ver ser alguém compreende alguma coisa do que o outro quer falar e a
gente vai...a gente vai se matando pelas curvas sem pintura dos nossos
asfaltos, vai perdendo amigos pelos buracos e falta de sinalização e
na maior parte das vezes a gente vai morrendo mesmo pela ignorância de
quem está dirigindo e até mesmo pela nossa, por acharmos toda essa
besteira legal. Certo, depois dessa opção de morrer de carro, vem a
opção ficar. Ficar e encher a cara de qualquer coisa que seja
consumível e contenha álcool é lógico, afinal de contas todo mundo
aqui em Taió bebe, só não bebe os bebês e os babacas que o digam. E o
pior, é muito fácil comprar bebida e drogas em Taió. Mas fácil do que
comprar uma boa educação ou um bom atendimento num posto de gasolina.
--- Essas novas opções na realidade não são tão novas assim, se você
as considerar novas, considere-se velho, mas velho não é defeito,
muito menos problema, velhice é sinal de respeito e conhecimento.---
Aqui em Taió existe um fato que muitos desconhecem. Existem as
conhecidas zonas que ficam no acesso e que na verdade são barracos de
favela, recheados de prostitutas falidas e que vieram pra cá pra
arranjar um marido ou arranjar uma variação nova do cranco mole. Mas
também existem as menininhas de 15 anos que todo mundo conhece por
nome e sobre-nome que se conservam virgens, mas adoram felação. E como
também existem os menininhos de 15 anos que se consideram comedores
mas adoram a masturbação em conjunto. --- Papai e mamãe, um alerta. O
papo que rola nas cidades vizinhas (Salete, Rio do Campo, Pouso
Redondo e essas outras porcarias é que em Taió tem mulher para todos
os gostos. Desde as louquinhas cheias de piercing que vão a festas só
pra encher a cara e curtir uma onda de maconha e LSD correndo dos
touros, até as ripongas defensoras dos animais, que são chatas e não
depilam a xota, mas tiram a roupa por qualquer merda).--- Por favor,
recuem com essa cara de espanto, eu não quero levar o humor de vocês e
a velha segurança que todos têm por morarem numa cidade como Taió pelo
ralo. A verdade não dói tanto assim, aqui em Taió tem muita coisa boa
para se fazer. Mas muita coisa acontece pela falta de competência que
todos temos, ou mesmo pela capacidade extrema que temos de achar que
temos competência. Muito menos eu, solitária na frente desse
computador com um monitor cheio de adesivos da Hello e das Meninas
Super Poderosas, nem sei o que sou, se sou apenas mais uma que perdeu
o dito cujo cabaço dentro de um carro lá na barragem ou se realmente
dei a xoxota para algum otário só para ver se era bom...não importa, o
que importa é que na hora eu tive opções, afinal, o "Homem está
condenado a ser livre" Opção 1 - O Ato Heterossexual: Existe em Taió o
fato de você ser uma pessoa revoltada e que possivelmente será alguém
na vida, --- se você não decidir fazer faculdade na área da saúde e
migrar para uma cidadezinha minúscula só para ficar rico, (e só lá)
--- sendo assim, você é capaz de filtrar as coisas que chegam até
você. Muitos dos versos que você ouve não são só de amor, e quase
todas as coisas que você faz estão centradas no seu trabalho e na sua
chance de curtir a vida. Então você acaba escolhendo o ato
Heterossexual, ou seja, você opta pelas coisas que na realidade são
foda! É foda fazer faculdade com o seu dinheiro ou com o dinheiro dos
seus pais, que na verdade nunca reclamaram de pagar o curso pra você
--- eles devem te amar muito mesmo --- e depois ter que ir embora
porquê Taió não tem emprego para uma jovem, por exemplo, formada em
contabilidade ou mesmo direito. É foda ter que recusar maconha de uma
pessoa que você achava, até ela ter feito isso, que era sua amiga. O
próprio ato de você escolher o ato Heterossexual já é uma coisa foda,
nele tudo é mais difícil. É Foda Pra Caralho ter que compreender que
aqui em Taió as pessoas tornam-se ainda mais invejosas só pelo fato de
que, depois de você ter feito faculdade numa cidade distante, ter
morado num ranchinho cheio de baratas perto da universidade e ter
deixado pra trás muitos amigos e amigas, você aparece com um carro
novo, provavelmente financiado em 36 vezes, pois o salário do Brasil é
um dos piores do mundo e a porcentagem de faturamento das lojas de
veículos em Taió é uma das maiores do mundo...é complicado e foda ver
as pessoas comentarem que você faz programa na cidade que você dá duro
para trabalhar e para viver. É Foda Pra Caralho, ver aquelas pessoas
às 4:30h passando de bicicleta com uma mochila pendurada nas costas
indo trabalhar numa serraria. Haja vista os problemas que você já tem,
por ter escolhido a opção do ato heterossexual, você ainda tem que
penar por não compreender o porquê dessas pessoas passarem sorrindo e
super animadas por tudo o que terão que fazer no dia de trabalho
pesado. Já disse Deus uma vez, que as pessoas mais felizes do mundo
são aquelas que chegam fedendo em casa. Eis uma verdade que vai além
de tudo o que está escrito aqui. É Foda Pra Caralho saber que suas
idéias em Taió não valem nada. Talvez porquê elas sejam ruins mesmo ou
talvez, pela razão de que elas são super boas. Então, como sempre um
babaca mais rico do que você e com muito mais do que 25 anos
literalmente assalta você e usa sua idéia como se fosse a dele. Talvez
ele tenha essa capacidade por merecer ou talvez, seu pai tenha deixado
uns 43 terrenos em Taió mais um histórico de lucros e aproveitamentos
e isso faz dele um cara diferente, cheio da grana, coisa que você
ainda não é. Aliás, não é dado incomum que algumas pessoas são donas
do Taió, como elas mesmas falam. Talvez detenham esse nobre cargo pois
foram os primeiros a abrir uma picada larga no meio da exuberante mata
nativa que já teve por aqui, ou talvez, por terem dinheiro suficiente
para comprarem carne e cerveja pra todo provável inimigo ou, tenham
dinheiro suficiente para enfiar na bunda de quem propor um desafio. É
sempre Foda Pra Caralho amar Taió para quem escolhe a opção do ato
heterossexual. Taió é Taió, como ninguém no Alto Vale lembra e que se
resume a Coronel Feddersen, em formas largas e mal conservadas, com
múltiplas janelinhas novas e de todos os tipos e que enxergam todas de
maneira diferente. Micropessoas perambulando, bancos internacionais,
barracas de cachorro quente estranhas, rinhas de galo, sons em
porta-malas, guitarras sem corda, cerveja sem álcool, lojas de
informática que vendem tralha, postos de gasolina que não vendem
combustível, supermercados que fazem máfia, máfias que desfazem
máfias, clubes de recreação que estão caindo aos pedaços, clubes onde
se enche a cara e se compra a cidade, drogas pela Coronel Feddersen,
bombeiros que trabalham muito mesmo, oficinas que conhecem, oficinas
que nos conhecem, casas coloridas, casas doloridas, famílias
desestruturadas, estruturas públicas enferrujadas, medo de polícia,
polícia sem medo, suor, sangue e finalmente... sexo, sem camisinha é
claro, pois aqui todo mundo se conhece.
--- Até daqui alguns dias. ---
Autor desconhecido...
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